terça-feira, 22 de março de 2011

Um pouquinho mais de Obama

Recorro a Drummond quando de sua crônica sobre o Verão: "peço aos cronistas deixar um pouco de Obama, também quero comentá-lo. Assistiu-se nesses últimos dias a loas desenfreadas da velha mídia hegemônica em júbilo pela vinda do primeiro presidente negro norte-americano a setima economia mundial, governada agora por uma mulher, também pela primeira vez. Em fotos e vídeos a "primeira família" norte-americana foi dissecada em gestos e sorrisos, frequentes e distribuídos a granel,seja no Palácio da Alvorada, ou na comunidade da Cidade de Deus, durante visita ao centro de referência da juventude,enlouquecendo os repórteres, acompanhando o presidente estadunidense como que a um personagem televisivo, de quem se esperam sorrisos e acenos, mas cuja presença não visa modificar o cenário econômico mundial. O fato é que Obama funciona na mídia de forma única, seus gestos simpáticos conquistando gregos e troianos em território brasileiro. Não se trata de mera celebridade entretanto, mas de um chefe de estado, cuja presença em solo nacional guarda mais importância e significados do que podem demonstrar os editores de grandes veículos de comunicação. Nada ou quase nada foi falado sobre os acordos comerciais a serem firmados ou do detalhe que passara despercebido a olhos críticos, de que Obama ordenou os ataques à Líbia do Brasil. Só um absurdo teor de ingenuidade leva a crer tratar-se de ação impulsiva, dadas as circunstâcias e ao fato de levar-se a crer pela mídia sentir-se o presidente norte-americano em casa para assim proceder. Assim muito o quiseram , todas as autoridades presentes ao evento, governador e prefeito carioca em destaque, sob o coro da mídia, repetindo em pautas e produções o gesto do presidente da UDN, Otávio Mangabeira, em 1946 ao general Eisenhower.


Por todo lado, cidadãos empolgados descreviam de que forma saudariam o presidente Obama, com faixas, comidas típicas e até um futebol amigo, sugestão aceita pelo próprio no que resultou na foto reproduzida largamente pela imprensa: o mandatário do dito país mais poderoso do mundo, divertindo-se a fazer embaixadinhas. Nada mais vendável e de fato o foi. Entretanto, a chegada de um político desse porte também traz contrariedade e nesse viés as lentes da grande mídia voltaram as costas aos manifestantes que protestavam no centro do Rio de Janeiro, ignorando que muitos foram encarcerados em presídios como o complexo de Bangu, sem julgamento, por todo o período em que durou a visita e junto com presos comuns e na garantia de manutenção da ordem pública. Sobra inocência, ou cegueira, no que diz respeito ao fato de Obama ser o simpático chefe do executivo de um país criticado por seu intervencionismo, suas práticas econômicas que cristalizam os subsídios aos produtos nacionais e a posição obscura que ainda parecem ter quando o assunto é America latina. Que Obama não é Bush, isso parece evidente ao mais distraído dos observadores. Entretanto,mesmo correndo o risco de parecer alarmista, a mesma ingenuidade(ou não) na análise trouxe na década de 40 a implementação do Office for the Coordinator of Commercial and Cultural Relations between the American Republics ,onde políticas de estimulo a divulgação da cultura norte-americana acabaram por estreitar os laços entre governantes brasileiros e estadunidenses,em um desenrolar de concessões que,salvo a peculiar presença de Jânio quadros e João Goulart,ex-presidentes,o primeiro tendo renunciado e o segundo deposto,culminaram talvez por essas últimas ações mesmo,na implementação de um governo militar em completo entreguismo com os norte-americanos,findo esse processo de forma mais evidente somente em 2003,quando da chegada ao poder do presidente Lula.Por sua política externa voltada para o sul,e aproximação com regimes controversos como o Irã ,lula sofreu críticas de imprensa local e norte-americana,para quem tratava-se de
"tiro no pé".Quando o chefe de estado ordena um ataque num país a uma conhecida potência petroleira( a Líbia),muito pouco falta para interpretar esse gesto como uma forma de angariar aliados,seja para afastar-nos do "cone sul" ou do "gigante asiático,membro,assim como o Brasil,do bloco que mais cresce economicamente,o BRIC.Elogios e simpatias à parte,Os EUA são mais do que Michele Obama e família,são um Estado com histórica política de mitigar esforços de independência mundial. Convém ficar atento.



http://pt.scribd.com/doc/6836692/a-politica-cultural-norte-americana-no-brasil-silvanaqueiroznerymesquita

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