quarta-feira, 26 de maio de 2010

O cinema e o povo

Sobre a reportagem do Nytimes,reproduzida no portal G1,da exibição,apos anos,de um filme iraquiano em Bagdad:

Cinema de Bagdá recebe filme iraquiano

Tombam sob bombas cidadãos do Iraque .Imediatamente agências de notícias e emissoras internacionais contatam seus melhores repórteres e os enviam em missão de contar os mortos e relatar as ruínas de mais um dia de barbárie.Correspondentes internacionais e ONGs percorrem as ruas em busca de vítimas,produzem relatórios,matérias,fotos em que intencionam retratar o flagelo humano e clamar por justiça e auxílio humanitário.
Entretanto mortos e feridos não somam,embora de patente realidade,todo o universo iraquiano em seus milhares de anos de existência.Homens,mulheres e crianças são vítimas de violência e disputa política e religiosa mas também são personagens de suas próprias histórias, contadas por pesquisadores em cores vívidas e distribuídos em teses e livros a granel ao redor do mundo.Contam certamente a verdade e é essencial que o façam, alimentando de informações o imaginário mundial ,dando-lhes ferramenta com que atentem para a necessidade de cooperação e apoio a feridos e desabrigados diarios,sob as bençãos da Declaração Universal de Direitos Humanos,promulgada quando do fim da Segunda Guerra Mundial.
Contudo,homens e mulheres deste país não somente querem o pão e a água,querem exercer o direito de sua própria existência,ter voz,manifestar-se sobre sua própria história,escreve-la com suas próprias experiências,erguendo o véu sob o qual são geralmente guardadas as particularidades do islamismo.
A ocupação norte-americana no Iraque de passado desastroso,visava ou pretendia ,resgatar a cidadania daquele país,garantindo a segurança no exercício do estado de direito sob a aprovação da sociedade.É fato,porém,que somente garantir sob o peso de tanques,a validade de uma nova constituição não pode por isso só determinar sua legitimidade ,porque ao seu direito querem os cidadãos recuperar sua identidade,seu modo de vida,seus costumes e cultura e não somente como espectadores,mas como agentes de fato deste evento.
A exibição de um filme,"Filho da Babilônia",após anos,em um cinema nos arredores de Bagdá e a repercursão deste fato mostra ao Ocidente que estender-lhes a mão tendo em outra uma arma pode não ser a melhor das ideias por melhores sejam as intenções.
Herdeiros da riquíssima cultura persa,iraquianos querem de volta o direito de exercê-la,manifestá-la como melhor lhes aprouver,tomar nas mãos as ferramentas com que transformar sua propria realidade,usando câmeras e papel na construção da realidade que saberão melhor do que qualquer um,descrever e analisar,modificando-a de acordo com o bem comum.Ou,como declarou em entrevista ao jornal New York Times o diretor do filme, Mohamed al-Daradji,:
“Com o cinema, podemos mostrar às pessoas daqui que nós existimos como uma nação. Como nação, nós ainda existimos e vivemos.”
Nós daqui do ocidente,torcemos para que Dardji e muitos outros continuem a lançar seus olhares sobre seu país,constitiuindo com arte e participação popular um novo Iraque.

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