sexta-feira, 29 de outubro de 2010

um pouco de historia eleitoral e alguns pitacos

Tio acho que debater é sempre válido, ainda mais quando se tem em conta a campanha eleitoral mais suja que já se viu na historia desses país e olha que temos tido muitas.
Concordo que o PT não tem o direito de se arvorar em salvador da pátria, uma vez que a relativa estabilidade econômica conseguida hoje não foi obra de um partido ou governo, mas resultado de inúmeros estudos e políticas de fato concretizadas na execução do plano real, sob a autoria de homens como Rubens Ricupero, no governo de Itamar Franco, assim como os genéricos, sob a batuta de Adib Jatene. Sabemos que o PSDB também pleiteia a autoria destas medidas, a primeira somente para FHC e a outra para Serra.
Concordo que o sonho do PT, o meu sonho desde os 11 anos de idade quando da eleição de 1989 já não mais procede, uma vez que com o tempo aprendi a diferença entre ser partido e ser governo, governar para um país e governar como membro de uma comunidade internacional, submetido a regras de mercado sem as quais nenhum estado consegue sobreviver.
Lembro de caminhar pelas ruas de Santa Teresa em 89 e imaginar como podia essa festa democrática ter resultado diferente da eleição daquele homem barbudo e de dicção confusa, mas que falava sobre um projeto de respeito aos direitos humanos e de inclusão social. Confesso que não acreditei quando vi o resultado nas urnas e tudo isso por causa de um boato, dizem. Parecia incrível.
Acompanhei oito anos de governo FHC e a evidente estabilidade do plano real, do dólar equiparado e todos os benefícios que vieram junto com isso, mas não me lembro de ter visto maior geração de empregos investimentos. Ao contrário, assisti ao sucateamento da minha escola técnica federal, sob a égide governista de 1995 a 1998..
Em 2002, novo Lula chegava ao poder. Já não era mais o mesmo de antes e presenciei alarmada a conjunção de fatores transformar o que eu acreditava ser o ideal de uma política igualitária,feita por homens no contexto da ética no” Lula paz e amor” que, conciliador, agregou em seu governo nomes com ACM, Sarney, Severino Cavalcanti e até Collor, veja só a heresia.
Minha ideologia já gritava, quando percebi que algumas coisas estavam mudando. Sim, eu permanecia no mesmo emprego, mas o índice de desemprego diminuía, os mercados mantinham-se estáveis, investimentos chegavam até o meu estado, ainda que sob a batuta do PMDB e o entusiasmo tomava conta dos grandes empresários e infelizmente de bancários também.
Mas e o povo?No sudeste e no sul a classe media espremida ainda prosseguia nas suas reivindicações mais do que justas, afinal um governo deve ser para todos, mas no norte e nordeste já havia muita gente com três refeições diárias pra contar, nesse mesmo plano criticado pelo Lula em 1989 e germinado no PSDB do Serra, é preciso reconhecer. E veio o mensalão.
De início permaneci enojada, mas depois fui começando a perceber que devia haver algo implícito na quantidade de denúncias e algumas deflagrando verdadeiras caças às bruxas, derrubando os homens fortes do governo. Então percebi que havia algo por trás dessas manobras, das constantes declarações do estrelato global no Faustão, do movimento Cansei de São Paulo e das constantes tentativas em colar ao presidente o desfile de escândalos diário nos jornais. Foi em vão.A popularidade do metalúrgico permanecia incólume,difícil mesmo de aturar.
Alguns dirão que o povo não lê jornais, mas bem sei que empresários o fazem e eles também estavam satisfeitos com o governo petista por mais incrível parecesse e são eles que, via de regra, balizam as grandes decisões econômicas e políticas. E por quê?A estabilidade monetária trouxe os investidores pra perto de nós e já começava a se ouvir falar de projetos em longo prazo num país que viveu entre o milagre econômico da ditadura militar e as obras faraônicas e a profunda recessão dos planos cruzeiro e cruzado.
Mas o projeto de país então vigente era, além disso, o de romper com o colonialismo cultural, na figura de um presidente que, se não era mais o militante de antes, aceitando o sistema de fato corrompido da federação brasileira, conseguiu a duras penas fazer o que nunca antes fora feito: distribuir renda e isso agradando aos banqueiros. parecia milagre...Mas alguns episódios mostravam que as falhas de fato persistiam..
Severino Cavalcanti e Renan Calheiros,caciques eleitorais, vieram, chegaram e permaneceram mais do que deveriam, levando em sua saída muita sujeira com eles..Culpa do Lula?Talvez, mas principalmente de um sistema representativo corrompido que prega as alianças e permite que exista num mesmo congresso um partido como o Psol e outro como o PMDB, o contraponto que confirma a governabilidade que quem quer que seja.
Sabemos que sem o partido de Sergio Cabral e Milton Temer, de histórico frustrante quando da ditadura, não ha governo.Não há ética que corrija essa lógica perversa. Então como fazer em um sistema federativo, quando há milhões de desempregados e famintos, instituições públicas sucateadas e empresas loteadas ao bel prazer dos lobistas? Há que se arregaçar as mangas e conseguir crédito e isso o “lulinha paz e amor “conseguiu bastante.Rompeu o preconceito com uma diretiva psdbista que privilegiava os acordos entre norte-americanos e europeus e cruzou o globo atrás dos investimentos e acordos com os empresários chineses. O tempo provou que ele tinha razão. Em 2008 a bolha dos créditos "virtuais "estadunidenses rompeu e levou consigo todo o mercado europeu. E nós? Sentimos o baque, mas recuperamos nosso prumo a tempo.
Muitos perderam o emprego por aqui, é verdade, mas nossos muitos são muito poucos se somados aos milhões de desabrigados e desempregados no dito primeiro mundo. Dirão que não era necessário, mas pensar na lógica econômica nos obriga a ser racionais e como sobreviver sem credito internacional?Muitos economistas gastaram muitas horas e não conseguiram responder à equação. O mercado interno trouxe a resposta e apesar de não ter sido a melhor solução investir em indústrias automotivas, foi preciso lembrar da quantidade de demissões nos EUA e no fechamento de fábricas da GM por lá. Então entendi que também era obrigação do governo garantir a manutenção dos empregos, nas indústrias e no comercio.
E enquanto a Grécia, a Espanha, a França e os norte-americanos choravam, nós, brasileiros, tupiniquins, vendíamos lenços, no mais popular ditado econômico. A crise?Vimos passar e de fato nos atingiu, mas muito menos do que poderia e se de fato o tivesse, nosso caro presidente não estaria aqui pra contar a história, seria execrado em praça pública, no mínimo.
Em vez disso, prêmios de revistas estrangeiras, da ONU, de organismos internacionais, reconhecimento de todas as partes e o grau de investimento. Finalmente o mercado, esse ente supremo, reconhecia que no Brasil era seguro investir.
E a classe media?Dobrou de tamanho, com a passagem de cerca de 30 milhões de cidadãos para um nível acima na escala econômica.
E o meu salário, pensei?Continuava no mesmo patamar. Mas seguindo as promessas de campanha, 25 milhões de brasileiros já tinha comida na mesa, luz e escola, outros tantos podiam freqüentar escolas técnicas, ter suas carteiras assinadas, (foram 36 milhões em oito anos), e até pleitear a casa própria. Parecia um governo assistencialista. E era.Mas é fácil teorizar sobre a pior ou melhor solução quando não se tem urgência.E 60 milhões de brasileiros já não podiam mais esperar.
A pergunta a ser feita é porque não foi incluído no projeto do plano real a distribuição de renda em larga escala, logo num governo do sociólogo Fernando Henrique e do economista Jose Serra?Se pensarmos um pouco é mais fácil a Lula, nordestino e retirante, entender a urgência de seus conterrâneos do que seus pares políticos, educados nas melhores universidades da Europa. Sim, o Lula de 1989 não apertaria a mão do Collor, mas talvez nem ele na época soubesse que seria o governante do pais com uma das maiores reservas de petróleo do mundo, oito anos depois de um governo retirar 60 milhões da pobreza, isso tudo, é preciso dizer, apesar do PMDB.
O presidente é claro, tirou proveito da onda em que surfou, alardeou conquistas, contou vantagem, virou tema de filme. E isso depois de ter sido massacrado pela mídia nacional, quando os veículos internacionais já tinham se rendido a seu inegável carisma. Até mesmo seus principais adversários precisam reconhecer o inegável talento para a política,o dom conciliatório, o pulso firme onde em uma das mãos falta um dos dedos..
Se esse homem, torneiro mecânico, soubesse onde chegaria, teria persistido após ter provocado a própria mutilação, como dizem muitos?Sabendo que, metalúrgico, defensor do direito de greve nas manifestações do ABC, figura cativa dos sindicatos, chegaria ao posto de personalidade do ano e Chatham House em 2009(equivalente ao premio Nobel) teria planejado a própria aposentadoria num nível mínimo de remuneração?Isso quando com 63 anos ainda tem percorrido os quatro cantos do planeta incansavelmente a promover sua cultura e seu povo?Será mesmo que, uma vez aposentado, não seria melhor e mais fácil sossegar em casa, aproveitando os outros membros que lhe restavam, isso quando, dizem. foi tão simples suprimir um?
Alguns o acusarão de duas caras, comparando o lula de 78 e 89 ao lula de hoje, mais velho e mais consciente de que o presidente num sistema federativo está longe de ser o salvador da pátria; é quando muito o síndico de um condomínio com 190 milhões de condôminos em que cada bloco pleiteia benefícios pra si em prejuízo dos demais.
Lula não é um messias, mas é o homem que, consciente de que não poderia mudar o sistema que o elegeu, fez o possível para, melhorando as enormes falhas e sucateamentos existentes na estrutura de governo fazer a máquina publica andar. Lula não olhou somente pra si, construindo um culto da própria imagem, na divulgação de planos feitos por homens. Seus projetos em geral, tem a cara do governo e até a escolha da ministra Dilma para sucede-lo, tinham o perfil do país.
Num cenário pós mensalão Dilma foi escolhida como seu braço forte, sucessora não de um trono de honrarias, mas de um grande canteiro de obras sem prazo para terminar. Sim, o PAC não esta nem na metade, mas assim foi feito, como um plano de metas a serem cumpridas em longo prazo, muito embora devamos reconhecer que serviu de trampolim eleitoral pra Dilma.
Se se tratasse apenas disso, fácil seria escolher entre x ou y, mas a campanha eleitoral que se vê hoje ultrapassou os limites do crível,quando a mulher e o vice do candidato Jose serra fazem campanhas de coação e pânico ,alardeando que Dilma ira assassinar mulheres e crianças, isso quando foi Serra que regularizou o aborto quando então era ministro em 1994.
Só isso já seria razão para querer esse povo bem longe de me representar, mas eles foram Além. Usaram uma máquina de fabricar boatos, sob o aplauso da mídia para alardear infâmias, um imenso aparato de comunicação contra uma só mulher: Dilma. Segundo a folha de São Paulo e o Estadão, a ex-ministra era terrorista, búlgara, lésbica, herege e comunista...Dilma, por mais tenha a posição pessoal favorável ao aborto, não tem o poder de determinar o destino de um tema tão delicado, objeto de acalorados debates sempre que posto em voga no congresso nacional...Dilma não é comunista, é tão somente na maturidade uma gestora, competente e com fama de brigona..Talvez o seja..Mas não me consta que rabugice seja causa para não ser eleita..
A mídia bateu mais. Serra declarou-se a um só tempo defensor da moral e dos gays, cumpridor de promessas e ético. Ético pode ser que seja, sua fama de administrador obstinado é forte. Mas não se deve esquecer que assinou um compromisso com seu estado prometendo não deixar o cargo para concorrer a novas eleições, promessa que evidentemente não cumpriu...
Serra alegou ter sido agredido num comício em campo grande, RJ, numa farsa tecnológica desmentida no suceder de quadros de uma filmagem. Serra declarou que fazer negócios com a China é perda de tempo, quando o gigante oriental alcança níveis estratosféricos de crescimento econômico. Serra e o PSDB crêem, e não fazem segredo disso, que os projetos sociais do governo Lula provocam o crescimento dos gastos públicos e planejam cortes e revisões em programas consolidados,embora jurem que não mexerão no bolsa família e nos demais ...
Serra, com a grande mídia na mão, podia explicar porque a Globo, tanto tempo calada sobre os atos do governo no pós mensalão, recomeçou a cantilena, coincidentemente depois de o governo Lula ter regionalizado as verbas publicitárias da união para todos os estados e não somente para o sudeste e o sul como costumava acontecer nos tantos anos de governo de direita.
A mídia podia então explicar como pode acusar o governo de tentar cercear a imprensa, quando esta tem se esmerado em produzir manchetes sensacionalistas em jornais e revistas diariamente vendendo um medo que o brasileiro acabará por comprar. Como entender que o progresso de milhões soe como estagnação para alguns e que, na ilusão de que Lula apontaria o caminho da perfeição, muitos o acusam de mentiroso, mesmo tendo tantos números que embasam seu discurso...?
Um pais não se faz num dia, mas pode ser destruído no correr de uma caneta, como tantas vezes aconteceu por aqui. Um pais é resultado do esforço de milhões e da compreensão de que o crescer de muitos acaba por alavancar o crescimento de todos. Mentiras não se medem por versões de um fato, mas por números, não somente pela ótica individual mas pela coletiva e o Brasil é muito maior que o sudeste. Vai além, nos sertões do nordeste, no norte longínquo ou extremo sul.
Lula, por maiores sejam suas realizações e pavoneamentos, não é nem pode ser maior do que o país. O que foi feito de fato o foi porque a mídia viu-se obrigada a informar os números do crescimento, ainda que a contragosto .E essa crescimento pertence a todos nós... O país é as suas reservas de petróleo, seu território extenso, sua diversidade e até mesmo sua falta de participação política.
Acreditamos por aqui que nos isentando do debate crítico as coisas ainda assim podem melhorar. È preciso que seja promovido o diálogo, nas reportagens e investigações da policia federal (300 do governo Lula contra 30 do governo FHC), seja mantida em movimento a máquina do estado não só pelo corpo dos três poderes federais mas pelo exercício da cidadania, onde o direito de greve é respeitado e professores não são recebidos a bala como em são Paulo, médicos podem cuidar de seus pacientes em programas como o saúde da família e nós, cidadãos temos o direito e o dever de participar, levando nossa crítica e nossa resposta ao imenso material de propaganda tendenciosa que nos é apresentado todos os dias.
Lula se pudesse escolher, bem que preferia não ter perdido o Zé Dirceu e o Palocci para as investigações da PF, mas mesmo se pedisse o processo caminhou e afastou seus dois homens fortes. Como afirmar que manipulou, se viu seu partido, o mesmo que ajudou a criar há décadas atrás, virar sinônimo de fraude e corrupção pelo viés dos jornais, isso quando já conhecíamos Sarney e Maluf desde muito?
Convém refletir se apontamos nossas armas no rumo certo e se, ao contrario do se diz por ai, Lula é apenas o homem que ajudou a inserir o Brasil no cenário mundial de forma concreta, tirou 60 milhões da pobreza, criou 13 universidades, diminuiu o risco país,diminuiu a divida externa, criou milhões de empregos e acordos comerciais, financiou obras e casas, carros, eletrodomésticos, programas de incentivo na educação e no esportes, fazendo com que muitos de seus antigos companheiros nas épocas de 89 e seus atuais críticos, , nessa ultima eleição, reconhecessem seus feitos conferindo-lhe apoio, temendo perder o rumo do crescimento, como é o caso do Frei Betto e Leonardo Boff, Mino carta, Chico Alencar, Ciro Gomes e tantos outros, evidentemente assustados com o rumo das eleições e mais ainda com a perspectiva de voltarmos ao atraso da década de 90.
O país passa por cima das personalidades de Dilma e Serra, vai alem, na esteira de uma economia que esta dando certo, embora com muitas e serias falhas a serem corrigidas por quem realmente comandou toda essa mudança.
Sim, meu salário e meus sonhos continuam os mesmos, mas já vejo como nunca antes na historia desses pais, perspectivas em longo prazo e isso certamente não inclui Lula, que certamente em alguns anos não mais estará no cenário político. Os resultados de seu trabalho, ainda que em conluio com o PMDB, com certeza estarão só depende da escolha que fizermos no domingo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Em pauta: